Escrito por: Thais Rechi / @thaisrechi
Maternidade é uma palavra tão idealizada e carregada de significados, que nós mães e principalmente mães hipnoterapeutas só aprendemos de fato a dimensão de tudo o que ela envolve quando nossos filhos chegam a esse mundo.
Lembro-me dos medos que rondavam minha cabeça quando eu estava grávida da minha primogênita: será que ela nascerá saudável? Será que serei uma boa mãe? Será que vou dar conta de amamentar, ensinar, cuidar, proteger, trabalhar, cuidar da casa, do maridão? Enfim, estou pronta para isso?
Eu poderia escrever uma carta só com os temores que vivenciei e que, provavelmente, toda mãe também enfrenta. E um fato é inegável: nenhuma mulher no universo está preparada para ser mãe.
Como assim Thais, ficou doida?!!!
Calma, muita calma pessoas lindas! Não fiquei doida. Só estou desmitificando algumas crenças que são comuns, e que de alguma forma, acabam prejudicando o maternar e as relações que se estabelecem a partir do surgimento de uma nova vida.
A primeira delas é que não existe um único jeito de ser mãe que funcione para todas
Maternidade real é aquela onde há inúmeras ”maternidades”, pois cada uma é vivida de forma única, carregada de experiências particulares, que envolvem contextos e desafios distintos.
É pensando nesse viés que, ao olhar a realidade de cada mulher, é possível afirmar que não é justo e nem saudável ceder às comparações e metas irreais, quando se trata de educação e criação de filhos. Sabe aquela pressão externa e interna para ser uma Super-Mãe?
Então, fuja dessa idealização irreal, que mantida a médio e longo prazo levam as mulheres ao esgotamento físico, psíquico e emocional.
A segunda é que não nascemos mães, nós aprendemos a ser mães
Você já se pegou observando uma criança brincar com bonecas e usando frases como “come a comidinha. Você quer dormir? Não mexe aí porque senão você vai se machucar….” ou embalando a boneca para dormir, mandando parar de chorar?
Sim, nós aprendemos a ser mães hipnoterapeutas desde muito novas. Ao observar a nossa mãe, ou a tutora(or), aprendemos por imitação e interpretação os comportamentos, crenças e hábitos.
Quer você queira ou não, reproduziremos muitos deles na relação com nossos filhos, de forma consciente e subconsciente, aquilo que internalizamos na infância, adolescência e juventude.
Se há uma coisa que nos tira do prumo e vira nossa vida de ponta cabeça é a maternidade. Nela são expostas todas as nossas dores, dificuldades, inseguranças e também nossas qualidades, fortalezas e talentos que até então estavam adormecidos ou subutilizados.
Ser responsável por outro ser humano demanda comprometimento integral, o que torna todo esse processo uma grande escola, que nos muda de um jeito inimaginável. Por isso é tão importante saber, compreender e ressignificar o que compreendemos como “modelo ou padrão” de mãe que absorvemos em nosso desenvolvimento.
Digo que meu sonho é que todas e todos deveriam se tratar antes de trazer uma criança a esse mundo. Sério!
Se isso acontecesse muitos traumas sofridos na infância perderiam força. Porém, essa não é a realidade, e cabe a nós, hipnoterapeutas, massificar a premissa de que quantos antes tratarem as dores internas que cada um carrega dentro de si, melhores e mais saudáveis serão os relacionamentos entre pais e filhos.
E por último, mas não menos importante, está a saúde mental da mãe, que impacta imensamente a vida dela e da(s) criança(s)
Anteriormente citei que as altas cobranças internas e externas podem levar a mulher, em destaque as mães, ao adoecimento. Isso se dá porque todas nós, mães hipnoterapeutas ou não, em maior ou menor intensidade, temos demandas emocionais reprimidas que podem ser consideradas traumas infantis que, em momentos de grande estresse, tendem a se manifestar em forma de sintomas.
Na hipnoterapia chamamos isso de transbordar o copo das emoções.
Essa é uma metáfora para explicar que nós temos um “copo” emocional, que vem lentamente se enchendo desde a infância. Esse copo tem todas as interpretações emocionais de tudo o que vivenciamos, desde o ventre de nossas mães hipnoterapeutas e que fazem parte de quem nós somos hoje. Sendo assim, determinados eventos podem acarretar em interpretações que levarão a emoções e sentimentos adoecidos.
O que acontece na maternidade é que esses sintomas podem se manifestar de inúmeras formas, o que acaba por prejudicar a relação entre mãe e filho (a), além de comprometer o desenvolvimento integral do menor, que poderá o acompanhar até a vida adulta.
Depressão pós-parto, crises de ansiedade, pânico, enxaquecas, dores físicas, infecções, são apenas algumas doenças que podem indicar uma dor emocional reprimida. Comportamentos também podem ser indicadores de que algo não está bem com a mulher: agressividade, permissividade, abandono ou distanciamento afetivo, perfeccionismo, uso de drogas (lícitas e ilícitas), isolamento, dificuldade para pedir ajuda, entre outros.
Mães mais doentes
Em recente pesquisa realizada entre os meses de maio e junho de 2020, com homens e mulheres de várias regiões do Brasil, foi apontado que um número grande de pessoas apresentou, durante a pandemia, sintomas de depressão, ansiedade e estresse.
Houve também maior consumo de drogas ilícitas, de cigarros, de medicamentos e de alimentos. As mais afetadas emocionalmente foram as mulheres, respondendo por 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse.
A pesquisa ouviu três mil voluntários e foi conduzida pela equipe do neuropsicólogo Antônio de Pádua Serafim, do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
O que isso nos mostra é que diante de períodos ou eventos altamente estressores somos impactados e, de acordo com nossas reservas internas, podemos sucumbir.
A experiência de uma mãe hipnoterapeuta
Como mãe e hipnoterapeuta, me vi diante de um quadro novo que a pandemia trouxe, me fazendo lidar com situações inusitadas, como dar aulas para uma filha de 12 e um filho de 10 anos. Ajudá-los com trabalhos, provas, adaptação ao sistema híbrido de homeschooling, além de executar todas as minhas outras reponsabilidades profissionais e familiares. Sinceramente, houve dias que eu parava e respirava fundo porque a rotina estava pesada demais.
Com o tempo as coisas foram se organizando, entrando nos eixos, e vejo essa experiência como muito positiva, pois gerou crescimento e aproximação entre nós. Pude conhecer facetas deles que antes eu não “tinha tempo” de perceber.
Pude tratar de dores minhas e deles que desconhecíamos.
Infelizmente, essa não é uma realidade experimentada por todos. Tenho recebido um número alto de mulheres que chegam com sintomas de esgotamento físico e emocional em meu consultório.
É fato que até pouco tempo atrás não se ouvia falar de Burnout Parental, uma síndrome altamente danosa, que segundo um estudo coordenado pelas psicólogas Isabelle Roskam e Moïra Mikolajczak, da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, em 2018. O estudo, que envolveu 17 mil pais de 46 países, afirma que adoecimento decorre dos desafios de ser mãe ou pai e que o desequilíbrio acontece devido a fatores de “estresse que pesam mais” do que o lado “recursos”.
E a pandemia tem contribuído demais para que essa e outras enfermidades afetem as mães hipnoterapeutas e cuidadores em geral. O isolamento social, fechamento de escolas, distanciamento, desemprego, o medo da contaminação e outros fatores têm feito com que a “balança” emocional fique desequilibrada. Aumenta-se o risco de que haja uma escalada da violência dentro dos lares, deteriorando a relação parental.
Como equilibrar a balança emocional?
Diante de todo esse quadro surge a pergunta: como posso equilibrar a balança emocional de forma que eu e minha família sejamos beneficiadas. A reposta envolve dois movimentos:
– olhar para fora e voltar-se para dentro;
– olhar para dentro e agir no fora.
Eu explico.
Quando eu afirmo que é necessário olhar para fora e voltar-se para dentro, quero dizer que é necessário observar o exterior, identificar as áreas que estão adoecidas e reconhecer que precisa de ajuda para se curar internamente.
Identificando os sintomas que estão no exterior (mal comportamento, dores e doenças físicas, dificuldade nos relacionamentos, baixa auto estima, insegurança….) então é hora de partir para o olhar interno e buscar as raízes emocionais que têm te desequilibrado.
O segundo movimento então é olhar para dentro, para as raízes emocionais adoecidas, tratá-las, ressignificando os eventos traumáticos através da mudança de percepção do fato, fazendo com que não doa mais.
Os sintomas exteriores tendem a desaparecer ou reduzir a intensidade de atuação. A partir daí é hora de agir no exterior, entendendo a autorresponsabilidade por seu próprio crescimento, assumindo o controle das emoções, em um processo de autoconhecimento.
Esse processo de equilíbrio emocional pode ser alcançado com o uso da hipnoterapia e da auto-hipnose!
A hipnose nesse processo
Sendo mãe e hipnoterapeuta esse é o caminho que utilizo tanto na minha transformação pessoal quanto a dos meus filhos. É impressionante o poder que habita em nossa mente e quando utilizamos as ferramentas corretas os resultados são transformadores e duradouros.
A hipnoterapia, que é o uso da hipnose clínica para tratamento de desordens emocionais que podem ou não se manifestar fisicamente, deve ser praticada por todo hipnoterapeuta. Porque nossas questões internas afetam nosso trabalho e todas as relações que nos cercam.
É possível fazer sessões de autoterapia (para demandas pontuais e leves) e sessões com outros profissionais a fim de sanar desordens mais agudas ou crônicas, com raízes mais profundas e que precisa de alguém para te guiar no processo.
Meus filhos já passaram por sessões, assim como meu marido e eu. Uma família precisa equilibrar suas emoções para que haja saúde tanto física quanto emocional no lar.
Já a auto-hipnose é excelente ferramenta para o dia a dia. Por meio dela você consegue gerenciar suas emoções, equilibrar os pensamentos, desenvolver novos hábitos ou se livrar de outros, lidar com desconfortos físicos pontuais, enfim, potencializar o processo de autoconhecimento e crescimento pessoal.
Assim, utilizando as poderosas ferramentas da hipnose e auto-hipnose, mães hipnoterapeutas (e seus filhos) podem ter uma vida emocional muito mais saudável e equilibrada, mesmo com todos os desafios que a maternidade as impõe.-
Thais Rechi
Hipnoterapeuta
@thaisrechi