Escrito por: Caroline Carvalho / @carolinecarvalhohipnoterapeuta
Já pensou como a hipnose e a neurociência estão interligadas? Se nunca se fez essa pergunta é importante que você saiba que, elas não somente estão interligadas, mas que uma comprova os efeitos da outra. Desde os mais remotos tempos, a hipnose é associada ao místico, ao mistério e em alguns casos infelizmente ao charlatanismo.
A falta de cientificidade ou neurociência da hipnose sofreu com esse estigma por muito tempo, podemos citar aqui um dos precursores do processo: o médico Franz Anton Mesmer (1734-1815) ao qual foi atribuído o título de charlatão. Isso porque após o uso da técnica de maneira não ideal, mesmo com resultados importantes, acreditava-se à época em formas sobrenaturais e pautadas no poder do terapeuta e não do indivíduo e de sua própria mente.
A cinematografia também contribuiu para essa visão tortuosa da hipnose com filmes que levam a entender o estado de hipnose como domínio da mente por terceiros.
E apesar de ser um processo natural, atualmente esse ainda é um dos empecilhos que fazem com que a hipnose e a hipnoterapia ascendam ao lugar que lhe cabe. O de terapia eficaz, rápida e acessível a praticamente todos os seres humanos, além de ser uma das maiores formas de autoconhecimento que já surgiu.
Atualmente podemos dizer que muitas novas técnicas estão sendo criadas e que não passam de hipnose, pois essa é uma atitude mental e todas as terapias que exigem crença no “poder” do terapeuta.
A hipnose
Seja pelas mãos, por instrumentos ou outras formas, são nada mais que uma atitude mental, ou seja: Hipnose.
E isso nos leva ao passado novamente, ao obscuro poder do sobrenatural, do inexplicável, do anticientífico e por isso cada vez mais os estudos, sejam eles empíricos ou científicos são tão importantes para o desenvolvimento e reconhecimento da hipnose.
E devido à toda essa história pregressa, essa fantástica ferramenta sofre com preconceito pela comunidade científica e com o medo e a fantasia pelas pessoas que poderiam se beneficiar dela.
Porém com o avanço dos tempos e com os resultados importantes relacionados ao tema, afinal desde os anos 50 a hipnose no Brasil tem sido utilizada na psicologia, odontologia e medicina, com justo reconhecimento, a ciência está investindo em entender melhor essa ferramenta que pode transformar vidas.
E para a ciência quanto mais “provas” mais científico e, é isso que a neurociência juntamente com a tecnologia, através de exames de imagens proporciona em relação à Hipnose.
No que concerne à essas “provas” estão o entendimento cada vez mais profundo do cérebro pelas neurociências e as análises de áreas cerebrais ativadas durante o processo de hipnose, através de técnicas de imageamento cerebral.
Henry Szechtman
Como exemplo cito o estudo realizado por Henry Szechtman, onde foram utilizadas imagens obtidas por PETScan, para mapear a atividade cerebral dos indivíduos. Nesse experimento foi sugerido que os participantes vissem e ouvissem um cenário e sons reais. Logo depois imaginassem um cenário, sons e afins sem a hipnose e depois em hipnose com sugestões desse cenário e sons.
Através das imagens registradas pelo PETScan, os pesquisadores descobriram que a região do córtex cingulado anterior direito mantinha-se igualmente ativa, enquanto os voluntários estavam hipnotizados com alucinações e enquanto viam e ouviam de fato o estímulo.
A mesma região cerebral, contudo, não era ativada enquanto os indivíduos apenas imaginavam que estavam ouvindo o estímulo. De algum modo, a hipnose induziu esta área do cérebro a registrar o som que provinha da alucinação como algo real.
Nesse outro artigo (Hypnotic hallucinations: Towards a biology of epistemology), Henry Szechtman sugere maneiras pelas quais a pesquisa sobre as bases neurais da hipnose, pode oferecer pistas sobre as bases neurais de psicopatologias, como o transtorno obsessivo-compulsivo e até a esquizofrenia.
A neurociência se expande
Os estudos cerebrais conseguem e vêm cada vez mais provando que o poder da sugestão e da imaginação, aos quais todo ser humano saudável é capaz, podem ocasionar mudanças reais.
Aliás, Jo Marchant no seu livro CURA (Como a Mente pode curar o corpo), em que se diz ser totalmente a favor da visão racional do mundo e acreditar nos métodos científicos.
Nele, traz histórias reais de casos complexos que foram sanados através da medicina alternativa, as quais dependem de sugestões e das crenças, ou seja, na atitude mental da pessoa. Aliás, ele cita também o quanto o avanço da ciência contribui para erradicação de doenças e desenvolvimento de medicações e vacinas.
Mas também alerta para o fato do quanto é defasado o sucesso para questões mais intangíveis, como os problemas emocionais, os de dores e doenças crônicas e que isso se deve à falta de atenção ao funcionamento do corpo como um sistema integrado (corpo e mente).
No mesmo livro, Jo Marchant cita que em caminho oposto à neurociência muito se aproveitou desse “poder da mente”, seja em técnicas criadas, em livros de autoajuda e tantas outras ferramentas.
Por isso, propõe através dos fatos que narra, uma abordagem diferente, a que aceita o papel da mente na saúde para que todas as práticas que se utilizam desse “poder” saia das garras da pseudociência.
O papel da autora, foi encontrar cientistas que até então estavam na contramão dos efeitos da mente no corpo. Isso para adentrar o aprofundamento nas descobertas do que realmente é possível ser realizado com a Mente.
Apesar da conclusão que chegou ser de que a mente não é uma panaceia, acredita ter um longo caminho para decifrar essa parte há tanto estudada e com o conhecimento ainda tão pouco atingido em sua plenitude.
Desbloqueando o poder da mente
Outro livro que ajuda – e muito – entender os efeitos que a mente, as emoções e os hábitos têm sobre nosso corpo e psicológico é o Best-Seller brasileiro: Desbloqueie o Poder da Sua Mente, de Michael Arruda.
Um material rico em detalhes e informações valiosas que ajudam qualquer pessoa a entender melhor as razões de muitos de seus problemas: físicos, psicológicos, financeiros e de relacionamentos.
Hipnose e neurociência
É sabido que a hipnose e a hipnoterapia têm efeitos e resultados diferentes nas mais distintas pessoas, entretanto é preciso identificar os porquês, entre tantas outras questões que ainda merecem ser aprofundadas.
O que com o avanço de métodos científicos das neurociências se torna cada vez mais possível, mas é importante lembrar que para haver interesse não basta o comprometimento dos cientistas e o avanço tecnológico. É preciso investimentos entre tantas outras questões de cunho financeiro e de mercado, visto que processos farmacológicos são mais rentáveis para quem retém alguns meios.
Então cabe aqui ressaltar não só o papel da neurociência no percurso da hipnose rumo a maior cientificidade, mas também no do profissional, na reprodução de fatos e resultados, pois vê-se que o hipnoterapeuta com base nas neurociências pode ser também um produtor de material para construção e avanço da hipnose e hipnoterapia rumo a degraus mais elevados.
Cabe medir, monitorar e apontar os resultados, mesmo que empíricos.
Hoje, existem muitos artigos científicos com base em neurociências relacionados à hipnose, mas ainda é muito pouco, logo, percebemos que temos um longo caminho científico a percorrer.
E a neurociência, bem como a tecnologia e os resultados práticos de atendimentos, tem papéis fundamentais no desenvolvimento científico dessa técnica milenar, efetiva e transformadora chamada hipnose, e que tudo isso podem levá-la a lugares mais que merecidos, o do entendimento e reconhecimento da ciência e o mais importante que é estar mais acessível às vidas que precisam de transformações, sem preconceitos, julgamentos e desconfiança e com isso maiores resultados.
Caroline de Carvalho
Enfermeira / Hipnoterapeuta
@Carolinecarvalhohipnoterapeuta